Em busca de novos papéis: imagens da mulher leitora no Brasil (1890-1920)

Autor: HELLER, Barbara

Nível: Tese ( Doutorado ) Ano: 1997 Orientador: Marisa Philbert Lajolo

Foco Temático: Memória de Leitor, de Leitura e do Livro

Instituição: Instituto de Estudos da Linguagem, UNICAMP Cidade/Estado: Campinas/SP

Descrição: Mulheres leitoras, dos mais diversos matizes - brancas, mulatas, ricas e instruídas, pobres e ignorantes - fazem parte do universo de vários romances escritos entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, como se pode observar nas obras de França Júnior, Coelho Neto, Machado de Assis, Valentim Magalhães, Lima Barreto, Júlia Lopes de Almeida, Adolfo Caminha e Rachel de Queirós. Embora ficcionais, essas leitoras parecem sugerir a lenta e tortuosa trajetória das brasileiras que viveram nesse período rumo aos livros pois, apesar de ter havido entre 1890 e 1920 alguns movimentos socio-econômicos priorizando a necessidade da educação feminina - especialmente as campanhas contra o analfabetismo desenvolvidas pelo governo e as reivindicações do movimento feminista brasileiro, a história da educação feminina no Brasil confirma a difícil formação do público leitor feminino. É só a partir de 1920 que as brasileiras conseguem ter acesso mais garantido as escolas e à alfabetização - condição primeira para tornarem-se leitoras. Embora numericamente mais alfabetizadas que as gerações anteriores, ainda sofriam resistência para tornarem-se leitoras: tanto a Igreja como a família consideravam os romances, especialmente os naturalistas franceses, nocivos e perigosos à formação da moral feminina. Portanto, era necessário tutelar a mulher leitora, a fim de evitar que ela se tornasse 'imoral' e 'leviana'. As leitoras ficcionais extraídas dos romances escritos nessa época podem ser interpretadas como uma imagem aproximada do pensamento corrente de então: a mulher deveria ler apenas o necessário para ensinar as primeiras letras e as primeiras operações matemáticas às gerações mais novas. Se ultrapassasse esse limite intelectual, corria o risco de ter de escolher entre o casamento, ambição da maior parte das moças, e uma vida um pouco mais intelectualizada. Ou seja: as várias personagens leitoras que vão sendo construídas nos romances do período não conseguem desfrutar de uma vida familiar e intelectual satisfatória. Algumas abandonam o hábito da leitura, a fim de preservar o casamento. As que mantém o apreço aos livros não se casam e não conseguem ser felizes na vida pessoal. À mulher leitora de papel e tinta, portanto, parece não haver uma solução emancipadora e satisfatória até meados dos anos 20 do presente século. A maior parte dessas personagens termina suas histórias tristemente, apesar das estantes forradas de livros. De todas as obras analisadas, apenas na de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) surgem mulheres leitoras, capazes de administrar marido e livros, o que parece sugerir uma pequena mudança de costumes na sociedade brasileira.

Fonte: ACERVUS-UNICAMP