O professor de Língua Portuguesa e suas relações com a leitura: um estudo com professores de Porto Velho

Autor: TEZZARI, Neusa dos Santos

Nível: Dissertação ( Mestrado ) Ano: 2000 Orientador: Maria Isabel Leme de Mattos

Foco Temático: Professor e Bibliotecário como Professor

Instituição: Instituto de Psicologia, USP Cidade/Estado: São Paulo/SP

Descrição: Esta é uma pesquisa sobre as relações que os professores de Língua Portuguesa estabelecem com a leitura a partir das representações que eles fazem de si como leitores, sobre o seu dizer a respeito das suas relações com a leitura, sobre as suas histórias de leitor. Este estudo foi realizado em Porto Velho - capital do estado de Rondônia - com 30 professores de Língua Portuguesa que atuavam em turmas de quinta a oitava séries do Ensino Fundamental em escolas municipais, estaduais e particulares de Porto Velho, no biênio 1998/1999. Foi-lhes solicitado que escrevessem um texto denominado "Memórias de Leitor", os quais foram analisados, tomando-se os pressupostos da Análise do Discurso como referencial teórico/metodológico a nortear tal análise. A pergunta de pesquisa "Quais são as representações que os professores de língua portuguesa fazem de si como leitores"? deu margem a outras questões norteadoras da análise, entre as quais: Quais são os seus conceitos de leitura e de leitor? Qual o papel da escola e da família na sua formação como leitores? Quais as suas leituras preferidas? Após a realização das análises, o que pudemos constatar foi que os professores de Língua Portuguesa que atuam em turmas de quinta a oitava série no município de Porto Velho - RO são leitores que não se representam como leitores, considerando a concepção de leitor ideal transmitida pela escola e pela mídia, internalizadas ao longo das suas histórias de vida: concepções estas que comprometem suas relações com a leitura tanto como leitores comuns quanto como professores de português. O principal comprometimento reside no fato de que os professores são inseguros sobre a sua condição de leitores, considerando-se a imagem de leitor ideal implícita nos seus discursos: outra conseqüência desta imagem idealizada de leitor é a vinculação do conceito de leitura às noções de qualidade e de quantidade, considerando-se os clássicos como a boa leitura e privilegiando o livro como o suporte ideal, em detrimento dos outros tipos e dos outros suportes de leitura. A partir deste imaginário sobre o leitor ideal que funciona nos seus discursos, eles se "confessam" não-leitores, e apontam como a razão para não "terem lido nada ultimamente" a falta de tempo. Quando citam outros suportes de leitura, como gibi, jornal, revista, se referem a eles como portos de passagem para a leitura melhor, que é a do livro. Quando se referem à literatura que não é tida como clássica, eles o fazem de modo a diminuir o seu valor: com pedido de desculpas, de modo a não considerá-las leituras legítimas, já afirmando que, apesar de lerem, aquela não é a leitura ideal. Uma das possibilidades de trabalho que vislumbramos junto a estes professores seria propiciar discussões sobre suas relações com a leitura, de modo que cada qual pudesse construir seus próprios caminhos, menos influenciados pelas determinações acadêmicas, encontrando significação efetiva para a leitura nas suas vidas.

Fonte: DÉDALUS-USP